Entregue aos prados repouso sobre o manto das ervinhas,
Onde a minha mente corre com o vento entre as ramas dos pinheiros.
O Sol é o manancial que alaga o topo dos pinheiros rodopiados aos ventos.
- A sua folhagem revoluteia-se como plumas loucas.
A alvorada é triste e cruel, tanto o Sol brilha,
Como a cortina de um palco desce, nuvem negra que escuda o astro régio.
A realidade é outra.
O vento torna-se áspero, os pinos arrepiados bailam
Desassisados em fuga da tormenta…
De súbito descortino uma onda ébria que desde o empíreo desce
Sobre a Ópera Natura.
Os pássaros que antes chilreavam como musas a coroarem de loureiro
O Visionár
FARTO DE PISAR MERDA by Santiagosemsan, literature
Literature
FARTO DE PISAR MERDA
Como o rapaz de solas de vento, que Verlaine amou,
Quis transgredir regras, ultrapassar fronteiras,
Saltar barreiras, quebrar limites e partir, voar
E nunca jamais voltar.
Quero ser livre,
Correr pelo mundo que o Visionário disse afinal não ser assim tão grande!
Com as asas de condor daquela que melhor cantou o amor,
Quero sobrevoar o mundo,
Quero chegar a um lugar onde não hajam feras.
Estou farto de andar aqui e além,
De pisar merda e mais merda.
A janela aberta ao horizonte,
Donde florescem palavras, ideias, ilusões,
Como a água límpida de uma fonte.
Mares onde vivem borboletas e tubarões.
Mares, filhos de nascentes pagãs,
Crescidos na euforia, em busca da eternidade.
Preces aos anjos, súplicas às águias:
Asas, asas, asas, asas, …
Asas para voar, asas para com o Sol se juntar,
Asas para a eternidade conquistar.
Mas nem mar, nem Sol, nem asas
Úteis são para a verdade imortalizar.
A verdade não existe, é de todos.
É minha, é tua, é de ninguém.
Verdade, desejo absoluto, universal, …
… impossível, inalcançável,…
A mentira existe, a verdade não existe.
É mentira, a verdad
BAIRRO ONDE ESTA A MINHA CASA by Santiagosemsan, literature
Literature
BAIRRO ONDE ESTA A MINHA CASA
A janela fechada aos meus olhos,
A porta fechada ao meu caminho,
As flores arrancadas do meu jardim,
O fumo negro das chaminés da minha casa sem tecto.
O bairro onde está a minha casa é florido.
As portas abrem-se como papoilas à alvorada.
As janelas são a foz da corrente lunática
E, das chaminés, fumegam sonhos, fantasias… liberdades.
Quero ver o Sol, quero ver o luar.
Quero que o vento me leve
Como faz com o fumo das chaminés do meu bairro.
Quero olhar ao espelho e ver-me!
Quero ser alguém, quero ser mais um,
Não quero ser ninguém.
Fundido como neve no lume,
Perdido na multidão, estou.
Coágulo humano,
Não sei sequer quem sou.
Descubro-me na perdição
Com a fé que achei.
Não posso caminhar só,
Preciso de uma mão!
Uma mão que me leve,
Que me diga o que é a vida
Ou o que poderá ser a morte.
Todos vivemos, todos morremos,
Queremos saber o que somos
E até o que seremos.
CAMINHA, SE FOSSES MINHA... by Santiagosemsan, literature
Literature
CAMINHA, SE FOSSES MINHA...
Sou Colossal, meus cabelos tocam os Céus
E meus pés molham-se com a água benta do Minho.
Sou Rei, as tapeçarias do Camarido e seus adornos são meus,
Tal como o altar do Monte de Santa Tecla é o encosto do meu ninho.
O Atlântico é a janela deste nobre aposento,
Onde sou iluminado pelo Sol, o mais cobiçado candeeiro.
No outro extremo assombram-me os seios das Argas
Que amamentam o meu sonho,
O sonho de ser deste sacro território padroeiro.
No coração deste Reino deleita-se ociosamente a sua Rainha,
Com a sua mais valiosa jóia, o Largo do Terreiro,
Separado da noite pela Torre do Relógio, a quem trata de menina.
A rua dos sonhos, dos
O Enigma, a Fantasia, a Revolução
São teus membros vitais.
És um espírito sóbrio de imaginação,
Um espírito ébrio da ilusão dos Liberais.
A tua presença prova que o Amor jamais morre,
Para te manteres vivo não precisas de ficção.
O teu Eu ainda por este mundo corre,
Não por castigo, não por necessidade; por evocação.
Muitos foram os que te admiraram,
Outros por ti sentiram rancor,
Como eu, alguns te amam:
Tu reinventaste o Amor!
ESTACAO DE EXTASIAMENTO by Santiagosemsan, literature
Literature
ESTACAO DE EXTASIAMENTO
Numa noite de extasiamento
Evoquei o Visionário.
De repente estava eu no firmamento,
Trespassara o próprio imaginário.
O Inferno iluminou-se,
Saturno mudara de lugar,
O poder de Vénus afirmou-se
No espírito ilimitado do amar.
Envolvido de arrepios e calores,
Vi uma Estação voar
Graças ao êxtase de tão estranhos amores.
Como uma jovem que perde a virgindade,
Penetraste o meu Espírito,
Cultivando uma celestial saudade.
SEREI? NAO, SOU POETA by Santiagosemsan, literature
Literature
SEREI? NAO, SOU POETA
Que é isto que sinto?
Serei cicerone dos sentidos?
Serei corredor sem meta?
Ou, como mãe, farei das palavras minhas crias?
Não sou máquina literária. Sou, deste sangue, um poeta.
Sou do Sol esta brasa;
Sou da chuva este mar;
Sou do ar este furacão;
Sou dos campos esta espiga,
Como todos os poetas são.
Sentado vi desfilar, o quê, não sei bem.
Talvez insectos, animais… não, parasitas!
A sociedade diluiu o mal no bem
E a alma do poeta apenas pode ser vista.
A minha alma é perfumada,
De poeta eu a tenho,
Sou embaixador da poesia,
Da literatura opositor, ser defunto do engenho.
O terreno é palpável,
Os sonhos, a ilusão, o sentido já não são.
E a ambição tornou-se moldável.
Há lixo no vestir, há lixo na canção,
Se o corpo é pedestável,
Será já fúnebre o coração?
Ver e querer ver;
Beber e ter sede;
Comer e ter fome;
Ter dinheiro e crer-se pobre;
Ter e querer ter.
Porquê nunca estamos satisfeitos?
Será excesso de satisfação?
Será capricho?
Será necessidade?
Mas que será então?
Querer é poder, mas,
Quem tudo quer, tudo perde!
Pois então, que havemos de fazer?
- Querer ou não querer?
Eu só queria cheirar;
Eu só queria olhar;
Eu só queria provar
O eclipse da minha lua.
Tu, eclipse que me encerras;
Que não me deixas respirar;
Que não me deixas mover;
Que apenas me fazes amar.
Mas…
… Amar é sofrer,
E sofrer, imaginar.
Imaginar é matar.
Matar é viver.
Viver é morrer…
… E morrer…
Claro! Morrer é amar!
A EXCENTRICIDADE DA LOUCURA by Santiagosemsan, literature
Literature
A EXCENTRICIDADE DA LOUCURA
Uma barreira imaginária
Divide-me no tempo,
A melancolia invade o meu ser
E, cada momento de prazer é o último.
Desde um olhar a uma gargalhada,
O meu coração rompe escalas.
Farto de Cupidos estou, … quero uma fada!
Alguém que dê ao impossível asas.
Assim, vê-lo-ei pousar no proibido,
Como outros o fizeram.
Podendo chamar ao absurdo: "Querido"
E, sem ironias, mostrando os apaixonados
Que tinham sido!
O MALDITO BAILE DAS TRAICOES by Santiagosemsan, literature
Literature
O MALDITO BAILE DAS TRAICOES
Viver no maldito baile das traições
É comer e ser comido,
É acreditar na mentira
E duvidar da verdade,
É apreciar o ódio
E desprezar o amor,
É confiar no Demónio
E desconfiar de Deus.
É um baile onde todos
Devem dançar ao som da sereia e seu canto
E, quem assim não fizer,
Terá de dançar com face coberta
E seu corpo sob um manto.
Paira uma dor no ar,
Tanto rio de te ver,
Que sem ti, não paro de chorar!
És a minha força,
És o meu alimento
E, sem isto, de ilusão me sustento!
Dependo da tua droga
E, sem ela, a minha vida
Acabaria num momento!
Desejo ver-te, cantar-te
E, em doces melodias, mostrar-te
Que é, para mim, uma obra d'arte!
SE A SOFRER ME QUERIAS VER by Santiagosemsan, literature
Literature
SE A SOFRER ME QUERIAS VER
Amor,
Tu que do nada surges,
Porque me afogas nesta dor?
Eu, que teu amigo pretendi ser,
Pago com este castigo todo o mal
Que nunca conseguiria fazer!
Admiro o teu encanto,
A compota amarga que é o prazer,
Que torna diminuto o mais amplo!
A ti, rei de colossal poder,
Invoco, pelo êxtase que me mata,
Sentimento mortífero, impossível de deter!
Por fim, te digo, verme coberto de nata,
Se a sofrer me querias ver,
Da minha alma, o conseguiste obter!
Desejo ser o vento,
O silencioso vento.
E assim, sem impedimento,
A mais fina tela levantar,
Os teus cabelos remover,
Brilho ao teu olhar dar
E, como em sonhos te envolver,
Ser o vento seria eu sonhar!
Sinto-me perdido num deserto,
Desejo um oásis encontrar,
Muito longe ele está, embora pareça estar perto!
De ti falo, quimera de encantar.
Tu que das minhas fantasias anjo és
E, das vivências minhas, um deus a louvar!
De gritos vivo o dia, esperando
Um sussurro de noite escutar!
Com cascatas me molho eu, desejando
Uma doce gota no meu corpo deslizar!
De olhos vendados a mim te vejo beijar,
Mas, com eles descobertos, no horizonte um sonho vejo flutuar!
Embriagado estou eu de amor,
Teus lábios e teu olhar
Causas são deste fervor!
Vivo de ti e, sem ti não o faria.
Dás-me o ar, o alimento
E tornas a minha loucura uma mania!
Símbolo és tu de sofrimento,
Sofrimento que eu sinto.
Dás-me a dor e o desalento,
É verdade, pois eu não minto!
Estrelas brilham no meu coração,
Estrelas, os teus olhos são.
Cintilas onde quer que passas
E envenenas quem te vê com paixão!
O Sol és tu, a Lua sou eu.
Tu iluminas-me, e eu…
… Eu mostro-te o lado mais belo
Que Deus me deu.
Desejo alcançar-te, tornar-me todo teu
E, além do teu amor, o teu brilho obter!
Dar-te-ia o meu carinho e tudo o que fosse meu
E, com um doce beijo, faria o pecado romper!